domingo, 29 de janeiro de 2012

Entrevista Delegado Rafael Vianna na CBN: "O Estado não pode proteger o indivíduo de si mesmo"

O Delegado Rafael Vianna discutiu, em entrevista para a Rádio CBN Curitiba, diversos aspectos da regulamentação das drogas, das três grandes áreas para a solução dos problemas da segurança pública e o que será da nossa sociedade.
Com ponderações que nos estimulam a reflexão, Vianna nos leva a pensar sobre o que esperamos do Estado, da Polícia e da nossa vida, apresentando frases como:
"Eu não quero que a polícia me eduque, nem que me diga quais devem ser os meus valores".
"A sociedade me admira porque eu ando armado e pelo mal que posso fazer, não pela justiça e pelo bem que posso fazer. A nossa cultura é uma cultura de violência. Esperamos a paz sem a aceitarmos de verdade".
"A guerra contra as drogas é uma guerra que não tem fim"
"O Estado não pode proteger o indivíduo de si mesmo"
No fim, Vianna ainda apresenta sua visão pessoal de porque ainda devemos acreditar na sociedade e nas pessoas, apresentando a esperança do salto de consciência para a humanidade.
A entrevista pode ser ouvida clicando no título desta postagem ou através do site da Rádio CBN Curitiba: http://www.cbncuritiba.com.br/site/texto/noticia/entrevista/4616

sábado, 14 de janeiro de 2012

Descriminalização das Drogas: uma medida aceitável?

Descriminalizar, legalizar e regulamentar as drogas são ações completamente diferentes de liberar as drogas. Não se trata de simplesmente permitir que qualquer pessoa utilize qualquer tipo de droga em qualquer lugar e na forma que bem entender.
Trata-se de não fugir do problema, de pensar soluções, de eliminar tabus, de se evitar dogmas, de se questionar os problemas, de procurar fundamentação científica, de reduzir danos e de aproximar pessoas.
O Delegado Rafael F. Vianna participou de um debate sobre a descriminalização das drogas, no Programa Plural, da TV UFPR, apresentado por Vanderson Almeida. Também participaram do debate o médico Marco Antonio Bessa e o antropólogo Maurício Fiori.
Durante o debate, fica evidente que a sociedade brasileira não sabe como tratar o problema das drogas e, assim, deixa o problema exclusivamente para a polícia resolver.
Até quando nossa sociedade deixará para a polícia tudo o que não quer pensar e/ou não sabe como resolver? Como podemos esperar que a segurança pública tenha solução assim?
É evidente que com a regulamentação das drogas não vamos resolver todo o problema. Vai sempre existir um mercado negro/ilegal, o contrabando e alguns crimes. De qualquer forma, podemos resolver parte do problema. Penso que é melhor solucionar um pouco do problema do que permanecer na inércia e na ilusão da erradicação.
Como não se chocar diante da atuação da polícia paulista na cracolândia? Até quando nossa sociedade utilizará os policiais como "lixeiros bem vestidos" (como ouvi de um amigo ontem)? O "lixo" que queremos varrer das ruas para não enxergar e não atrapalhar as nossas vidas são pessoas. A polícia não pode apenas varrer o "lixo" que a sociedade não quer ver. Somos parte do problema. Somos parte da solução.
Apesar do vídeo demorar um pouco para carregar completamente, o debate merece ser visto por todos, pois de grande contribuição para nossa reflexão.
No final do programa, Rafael Vianna pondera: "Até quando deixaremos para a polícia "resolver" todos os problemas que não sabemos como tratar? Não podemos utilizar o SUS para tratar o problema das drogas porque ele não tem estrutura suficiente para isso? Então, sacrificamos a polícia, os policiais e a segurança pública para esconder o problema e não pensar soluções que nossos dogmas e tabus repudiam".


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Cultura de Paz para 2012: "Hoje, as pessoas confundem bondade com fraqueza"

Não podemos mais adiar, não podemos mais esperar, não podemos apenas ter esperança. É preciso impaciência para mudarmos o mundo (como alguém me falou esta semana).
Que neste ano de 2012 iniciemos uma transformação na nossa forma de pensar o mundo, de enxergá-lo, de nos relacionarmos com as pessoas. Vamos iniciar a construção de uma cultura de paz, como tantas vezes já falei.
Uma reportagem na Gazeta do Povo tenta nos mostrar a importância de uma cultura de paz para a segurança pública e para a existência de cada um de nós.
Não é por fraqueza ou medo que escolho o bem, nem por incapacidade para o mal que escolho o perdão. Escolho a bondade por acreditar que é a única forma de sobrevivermos como sociedade.
Recomendo a leitura da reportagem "Cultura da Paz é o remédio", da qual participo com algumas ideias:
Cultura da paz é o remédio
18/12/2011 por Diego Ribeiro
Especialistas afirmam que fortalecimento da amizade entre vizinhos faz diferença quando o assunto é segurança pública
“Dizer bom dia a alguém é um sinal de que você reconhece e respeita a existência daquela pessoa”. Essa frase, da estudante de Pedagogia Fabiane Moreira da Silva, 18 anos, simboliza uma conscientização fundamental para reverter o quadro preocupante de medo e de violência no país. Mesmo tão jovem, ela sabe e entende a importância de estreitar as amizades e multiplicar o conceito de cultura de paz. Consciência essa que quase metade dos paranaenses ainda não tem.
Segundo levantamento da Paraná Pesquisas (veja o infográfico abaixo), 86,64% dos paranaenses conhecem seus vizinhos, mas o relacionamento é superficial em quase metade dos casos: 49,44% dos entrevistados relataram que costumam encontrar os vizinhos só quando estão saindo de casa e 6,18%, só em situações inesperadas, como no caso de um assalto. Por outro lado, 51,69% dizem que costumam visitar a vizinhança.
Autor do livro Diálogos Sobre Segurança, o delegado da Polícia Civil do Paraná Rafael Vianna é um firme defensor do fortalecimento das amizades entre vizinhos. Para ele, essa relação forte e próxima pode fazer a diferença quando o assunto é segurança pública. Mas, antes de fortalecer a amizade com a pessoa que mora na mesma rua, segundo o policial, é importante cultivar os mesmos valores dentro de casa. “Essas relações começam com a família. Não se pode ter medo de cultivar a gentileza dentro de casa. Depois, sim, pode partir para as pessoas que estão ao seu redor”, opina.
Ele lembra que a maioria dos pequenos delitos – que algumas vezes se transformam em tragédias – pode ser evitada com bons relacionamentos entre vizinhos. Segundo o delegado, muitas discussões entre vizinhos acabam nas delegacias. “É preciso compreender e se colocar no lugar do outro. O nosso maior problema é que sempre encaramos qualquer discussão como um ato de guerra. Não existem vencedores em uma briga ou um homicídio”, ressalta.
Sobre o grande número de paranaenses que mantém um relacionamento superficial com os vizinhos, o delegado explica. “É medo de começar, de ser gentil. Hoje, as pessoas confundem bondade com fraqueza”, explica. De acordo com o delegado, o segredo é valorizar os gestos de bondade, assim com Fabiane faz. “Enquanto a bondade for motivo de vergonha, dificilmente teremos solução na segurança pública”, enfatiza.
Cultura da paz
Na avaliação da diretora do Instituto Sou da Paz, Luciana Guimarães, gestos de gentileza e boa vizinhança fazem parte da cultura da paz, que precisa cada vez mais ser valorizada. “Isso tem a ver com a forma com que convivemos com as pessoas. É algo muito mais proativo”, explica. Segundo ela, a maioria dos conflitos do dia a dia é de convivência. “Não significa ser contra os conflitos, porque sempre vão existir. O que não é saudável é resolvê-los de maneira violenta”.
Para Luciana, conviver bem com o outro cria um ambiente desfavorável para o conflito. “Apostar no diálogo é ter uma forma diferente de resolver os problemas. É lidar com tudo de um jeito pacífico.”
Segundo Luciana, a vizinhança é uma instância muito importante, mas não pode parar por ai. “Começamos com os vizinhos e espalhamos essa cultura para outras relações”, comenta. Ela defende que a cultura de paz seja transversal e atinja toda sociedade. “Se a gente conseguir incorporar essa cultura, talvez revertamos esse quadro de violência e individualismo”, destaca.
Exemplo
Sociedade em construção
As duas mulheres têm o sobrenome Silva e são moradoras de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Mas elas têm mais em comum do que o sobrenome. Rudnéia da Silva, 34 anos, e Fabiane Moreira da Silva, 18, trabalham diariamente para construir uma sociedade de paz.
Fabiane, moradora do Jardim Primavera, sabe bem da importância de ajudar as pessoas. No projeto Arte da Paz, do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (Iddeha), do qual participou quando tinha 13 anos, muitos jovens resgataram a vontade de viver e de trilhar um caminho melhor por meio do hip hop, do grafite e de oficinas sobre cidadania.
Hoje Fabiane integra outro projeto, o Central de Jovem, também do Iddeha. O grupo usa um blog para transmitir mensagens de paz. “São os pequenos gestos que podem influenciar as pessoas”, explica. A estudante de Pedagogia também vai às escolas com o grupo e oferta oficinas sobre violência. “Os jovens são os mais atingidos pela violência. Então, é a gente quem tem de fazer algo.”
Já Rudnéia, moradora do bairro Jardim Santa Tereza, faz parte do projeto Mulheres da Paz, que chegou a São José dos Pinhais com apoio do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).
“A gente, como mulher da paz, pode ajudar muitas pessoas”, diz. Junto com outras 50 mulheres, ela resgata jovens com fragilidades sociais. “Procuramos saber quais os problemas deles, conversamos e depois encaminhamos para redes de proteção”, relata.
Rudnéia entrou para o projeto porque não suportava mais ouvir sobre tantos jovens morrendo por causa de envolvimento com drogas. “Quero tentar melhorar a comunidade. As pessoas acham que não têm dever com a comunidade. Falta muita solidariedade”, opina.
Ela e as outras Mulheres da Paz apresentaram uma peça de teatro sobre violência, na quinta-feira à noite, no Parque da Fonte, em São José dos Pinhais. Foi por meio da arte, de oficinas, de palestras sobre direitos humanos e cidadania que elas encontraram uma forma de fortalecer o laço da comunidade para criar uma rede de amizade forte e reverter o quadro da violência na região. “É se conhecendo que fortalecemos a comunidade.”


http://www.gazetadopovo.com.br/pazsemvozemedo/conteudo.phtml?tl=1&id=1204490&tit=Cultura-da-paz-e-o-remedio