quinta-feira, 30 de maio de 2013

Delegado Rafael Vianna profere palestra na Faculdade de Jornalismo da Unochapecó

 
O Delegado Rafael Vianna ministrou palestra e autografou livros para os estudantes de jornalismo da Unochapecó, Universidade Comunitária da Região de Chapecó, que tem aproximadamente 8 mil alunos, nos mais variados cursos.
Durante o evento, Rafael Vianna apresentou sua teoria sobre as três grande áreas da segurança pública, discutiu a relação da polícia com a mídia e debateu com alunos e professores sobre a melhor atuação do jornalista que trabalha com a área da segurança pública.
 
 
A palestra fez parte do XII Seminário de Atualidades, que teve como tema "Segurança Pública: responsabilidade de quem?", disponível em http://www.unochapeco.edu.br/jornalismo/noticias/jornalismo-abre-inscricoes-para-seminario-de-atualidades

domingo, 26 de maio de 2013

A BONDADE E A PAZ SÃO UMA ESCOLHA

Hoje volto a tratar da primeira grande área da segurança pública, iniciando com uma pergunta: o que você pode fazer nesta primeira grande área?
Como você pode contribuir para melhorar a sociedade em que vivemos, ajudar a construir uma nova cultura, criar novos valores sociais, nos quais a bondade e a solidariedade sejam motivos de orgulho e não de vergonha? Como você pode mudar o mundo?
Existem diversas formas de você ajudar, com ações muito simples como conversando com seus filhos sobre sexo e planejamento familiar, dialogando com as pessoas sobre projetos e planos de vida, sobre o que estamos fazendo com a nossa existência. Viver todos os dias escolhendo a bondade e não tendo medo de demonstrar compaixão também são maneiras interessantes de contribuir. Servir de exemplo em todos os seus atos para construir um mundo de paz, ainda que isso não seja nada fácil.
Esses atos devem ser praticados todos os dias, pois talvez a bondade não seja uma dádiva que um dia toque nossos corações. Talvez tenhamos que escolher todos os dias, em todos os nossos atos, sermos bons, pacientes, solidários. Talvez a bondade seja uma escolha e uma constante prática do bem, que nos exige atenção diária em como vivemos e em como tratamos as pessoas.
Não consigo ter sempre amor com o próximo. Não consigo não desejar a guerra e a violência em alguns momentos. Não consigo não estar irritado em outros. Todos são assim. A grande diferença é quando cedemos a esses desejos e ofendemos, brigamos, discutimos, machucamos e matamos. Temos que ensinar aos nossos filhos que a prática da bondade é que pode gerar bondade, é a gentileza em todos os momentos que traz mais gentileza, que interrompe um ciclo de violência, que acaba com brigas e discussões. Temos que construir uma cultura onde a bondade não seja motivo de vergonha, onde não precisemos sempre ter razão e ganhar uma discussão, onde a solidariedade não nos transforme em uma potencial vítima de bullying. Temos que ser fortes para controlar nossos instintos primitivos de guerra, de sobrevivência e escolher o perdão, a bondade e a paz, ainda que na maioria das vezes a guerra seja mais fácil.
Sejamos exemplos para as nossas crianças, conversemos sobre o que esperamos da sociedade em que vivemos, vamos construir o futuro a cada ato e gesto. Sejamos fortes para escolher a bondade e a paz.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

PROXIMIDADE FAMILIAR COMO FATOR DE MUDANÇA NA SEGURANÇA PÚBLICA

Dando continuidade às mudanças necessárias na primeira grande área da segurança pública, trago uma reflexão sobre a importância de discutirmos e pensarmos sobre questões existenciais com nossos filhos, sobre o que estamos fazendo no mundo, qual o sentido da vida, sobre o que iremos construir. Isso é construir pontes, significação, sentido em viver. Isso não pode ser feito pelo Estado, pela polícia, pelos governos. Ainda bem que não pode, pois isso precisa ser feito pela família, pelos pais, pelos responsáveis primeiros pela grande possibilidade que é a vida.
A aproximação das famílias, dos pais com os filhos, é essencial para que se busque dar sentido à vida, ao existir neste mundo. Muitos adolescentes não veem razão na vida, não sabem o que somos e o que devemos ou queremos ser, pensando que estão à deriva no mundo. Essas são as questões de fundo, que se localizam na primeira grande área. Se nossos filhos não descobrirem sentido na vida e não souberem como lidar com o vazio interior, que em algum momento sempre aparece, usar drogas de forma descontrolada e cometer crimes serão atitudes indiferentes, normais. Se a vida não tem um sentido último e o bem não vence no final, não há nada de anormal em fugir do mundo e delinquir. Os valores que queremos como sociedade devem ser discutidos em casa, pois nesse caso o Estado e a polícia pouco podem fazer. Cabe aos pais esta aproximação e essa discussão. Incentivo a todos que utilizem meus livros para iniciarem uma conversa, para quebrar o gelo com os filhos, o que é muito difícil quando nunca se conversou sobre questões mais filosóficas. Meu livro “A Melhor Maneira de Viver: inquietações da razão humana” trata muito sobre isso.
Saber o que seu filho pensa sobre a vida, o que ele espera construir, quais são seus sonhos e quem são seus amigos, são formas de contribuir para a segurança, tanto do seu filho como a de todos. Saber onde seu filho anda, com quais pessoas e o que irá fazer, contribuirá para que ele evite as drogas, as más companhias ou uma gravidez precoce. Com o tempo os valores de solidariedade se fortalecerão e talvez uma nova sociedade comece a surgir.
Enquanto as famílias estiverem afastadas, as pessoas não pensarem sobre a razão última das coisas e do mundo e a bondade for motivo de vergonha, não há muita esperança para a nossa segurança.

domingo, 19 de maio de 2013

PATERNIDADE RESPONSÁVEL E PROXIMIDADE FAMILIAR MUDAM A SEGURANÇA PÚBLICA

Continuando a reflexão sobre algumas atitudes que os pais devem adotar para ajudar a educar filhos para a não violência e para não vê-los envolvidos com a criminalidade, passamos a discutir a proximidade familiar.
O primeiro aspecto apresentado no artigo passado foi sobre a importância do planejamento familiar, pois esse propiciará a formação de famílias estruturadas, onde exista correlação entre as condições financeiras, de sobrevivência digna e o número de membros desta unidade familiar.
Ultrapassado este primeiro aspecto, devemos refletir sobre proximidade e união dentro das famílias. O afastamento familiar hoje é uma realidade e não pode ser minimizado em nenhum aspecto. Pais não sabem de filhos e filhos não sabem de pais. Muitas vezes levei crianças de 10 e 11 anos para casa porque estavam nas ruas (perto de bares, bailões e pontos de venda de drogas) de madrugada. O que fazer nesses casos? Dizer aos pais que amem seus filhos? Criar um Conselho Tutelar gigantesco para conseguir acompanhar todos os casos? Retirar essas crianças dos pais e deixá-las abandonadas em orfanatos?
Conforme falei: orientação sexual, educação e conscientização. Difícil e demorado, mas a única solução duradoura para a segurança pública. Apenas repressão jamais será suficiente se o contingente de possíveis criminosos não para de crescer e se a criminalidade encontra jovens com fatores tão propícios para delinquir.
Se você tem condições de compreensão e estrutura suficiente para começar, não espere. Comece dentro da sua própria casa. Unir a família, com os diálogos de segurança pública, conhecer e aproximar-se de seus filhos, orientá-los sobre drogas, más companhias, uma gravidez precoce, uma doença sexualmente transmissível é indispensável. Um constrangimento para começar estas conversas, principalmente quando elas nunca existiram, é normal, mas aproveite este artigo para introduzir e iniciar o assunto. “Hoje li um artigo que falava sobre….”.
Acompanhamento das atividades, companhias e amigos do seu filho não são motivos de vergonha ou excesso de proteção, mas atenção necessária e demonstração de afeto. Observe-se que em momento algum defendo a família tradicionalista e rigidamente estruturada, nem falo tão somente de riqueza ou número de filhos. Falo de afeto, de responsabilidade, de uma família com estrutura livre, mas que busca a felicidade existencial de seus integrantes.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Convite para ajudar o PROJETO ATLETA BOM DE NOTA

Prezados Amigos,
o Programa Atleta Bom de Nota, para continuar a funcionar, precisa de nossa ajuda.
Você pode ajudar com material esportivo, alimentos ou dinheiro para aquisição dos materiais necessários.
Em uma postagem constante na aba "Gente que faz a diferença para um mundo melhor", o programa já foi apresentado neste blog (Gente que faz a diferença para um mundo melhor: PROJETO ATLETA BOM DE NOTA).
Abaixo, trago os resultados do Projeto que ajuda quase 200 crianças, suas necessidades e as possibilidades de ajudar. 
 
PROGRAMA SOCIOEDUCATIVO ATLETA BOM DE NOTA
PINHAIS, PARANÁ, BRASIL
Eles Jogam, nós educamos.
 
 
APRESENTAÇÃO
Somos um grupo de voluntários que desde 2007 oferecemos oportunidade de promoção social por meio do esporte, educação, cultura e qualificação profissional. Atualmente atendemos mais de 180 crianças e adolescentes no contraturno escolar, em situação de vulnerabilidade social, oriundas de famílias de baixa renda na faixa etária de 7 a 17 anos, com uma metodologia voltada principalmente nos núcleos em que a criança e o adolescente estão inseridos: a família, a escola e a comunidade. Um dos objetivos deste Projeto é para que as crianças não fiquem ociosas nas ruas.
Na busca por um placar social mais justo desenvolvemos diariamente nos períodos manhã e tarde as seguintes atividades: treinamento de futebol (segundas e quartas) curso profissionalizante de informática (terças) curso de idiomas/ espanhol (quintas), capoeira (sextas), onde também oferecemos lanche para as crianças.
Nosso programa é desenvolvido em parceria com a COFSPORTS, CETP E CENTRO ESPORTIVO MENDES, estamos localizados na
QUADRA DO CENTRO ESPORTIVO MENDES RUA EGITO 374 – VILA PALMITAL – PINHAIS
FONE: 3033-3701/8414-80 96
  
PRINCIPAIS RESULTADOS JÁ ALCANÇADOS
A educação em tempo integral repercute em menor evasão escolar, diminuição das ocorrências de indisciplina na escola e em casa, respeito aos colegas e familiares, melhora na aprendizagem e consequentemente melhora nas notas com 89% de aprovações na escola, sendo que estes resultados refletem na vida familiar das crianças e adolescentes.
A prática do esporte, com a convivência social é uma forma eficiente de retirar as crianças e adolescentes da rua e do convívio com o ambiente das drogas e da violência. As crianças inseridas em nosso projeto já atingiram:
ü  Bons resultados na escola com aprovações de série;
ü  Diminuição das ocorrências de indisciplina;
ü  Respeito com os colegas e familiares;
ü  Melhora na aprendizagem e consequentemente nas notas;
ü  Resultando em um futuro melhor para as nossas crianças.
 
COMO POSSO AJUDAR AS CRIANÇAS DO PROJETO ATLETA BOM DE NOTA
Efetuando doações de: alimentos para o lanche das crianças, Materiais esportivos: bolas, chuteiras, uniformes,
Aguardamos sua visita, e desejamos sucesso.
PROJETO SOCIEDUCATIVO ATLETA BOM DE NOTA
COLABORADORES: MENDES, PROFESSORES RICARDO, CLEVERSON, THIAGO, GIL BRASIL, LEONI, MARIA.
CENTRO ESPORTIVO MENDES RUA EGITO 374 – VILA PALMITAL –   PINHAIS-PR
FACEBOOK: ATLETABOM DE NOTA             BLOG: ATLETABOMDENOTA.YOLASITE.COM
 
ABAIXO RELACIONO OS MATERIAIS NECESSÁRIOS PARA O PROJETO CONTINUAR:
1)     Lanche para as crianças, R$ 40,00 por dia x 2 dias semana = R$ 80,00 semana x 4 semanas = R$ 320,00 mês x 10 meses = R$ 3.200,00
2)     Camisetas para treino 200 x r$ 10,00 = r$ 2.000,00
3)     Coletes de treino 200 x R$ 5,00 = R$ 1.000,00
4)     Bolas de futebol  10 x r$ 40,00 = R$ 400,00
5)     Uniforme de jogo numerado – Categorias sub 7 sub 9 sub 11 sub 13 sub 15 sub 17 = 6 categorias x 17 jogadores = 102 x R$ 20,00 = R$ 2.040
6)     Calção  200 unidades x r$ 14,00 = R$ 2.800
7)     Meiãos  200 unidades x R$ 10,00 = R$ 2.000
8)     Chuteiras – do numero 36 ao 42 – 100 x R$ 40,00 = R$ 4.000,00 ( iremos usar as mesmas chuteiras dividindo com os alunos da manha e a tarde)
9)     Carterinha de identificação atleta  200 x r$ 4,00 = R$ 800,00
 
TOTAL R$ 18.240,00 divididos por 200 crianças = R$ 91,20 CADA CRIANÇA POR ANO.
 
Dr. Rafael, esse é o valor R$ 91,20 por criança por ano para tira-los das ruas, darmos esperança e um futuro melhor, ajuda-los em ser alguém no futuro, a ter esperança e acreditar na bondade.
Tenho uma sugestão para que o senhor possa nos ajudar a conseguir o material para o projeto: conseguir padrinhos para as crianças, sendo R$91,20 por ano por criança.

sábado, 11 de maio de 2013

PLANEJAMENTO FAMILIAR E A RESPONSABILIDADE DOS PAIS

A partir de estudos criminológicos, podemos afirmar, com certa margem probabilística, que há uma tendência das famílias melhor estruturadas - onde existe afeto entre seus membros - não terem seus filhos envolvidos com crimes graves e violentos. A responsabilidade dos pais nesse aspecto não pode ser minimizada, pois é na família que os primeiros vínculos sociais são construídos, assim como as primeiras visões de mundo e de sentido.
Assim, não podemos imaginar que exista algum afeto possível ou construção de vínculos sociais saudáveis quando crianças passam fome. Famílias muito pobres e muito numerosas terão dificuldades enormes de educar suas crianças e o afastamento familiar torna-se quase que inevitável para possibilitar a convivência com as tensões geradas pelas dificuldades de sobrevivência. A violência interpessoal nessa realidade é normal e compreensível, mas traz reflexos induvidosos para uma vida adulta violenta e carente de sentido social.
É responsabilidade das escolas, dos governos, das igrejas, das associações de moradores e de todos nós (pais, amigos, vizinhos, patrões) uma orientação sexual para o planejamento familiar. A conscientização exige tempo, mas é a única solução duradoura de longo prazo para questões de segurança pública. Temos que parar de formar criminosos em nossa sociedade e apenas depois querermos consertar o problema, nos iludindo que conseguiremos isso prendendo pessoas.
Quem ganha um salário mínimo não pode sonhar em ter dez filhos, pois não conseguirá, no mundo capitalista em que vivemos, propiciar dignidade aos seus filhos. Observe-se, no entanto, que não existe irresponsabilidade parental apenas em famílias numerosas e pobres. Isso não diz respeito tão somente a condições de riqueza ou quantidade de filhos. Trata-se de responsabilidade com uma vida, com o cuidado, com o afeto, com a formação que uma criança exige. Muitos ricos pouco se importam com seu único filho.
Segurança pública, pode-se perceber, não é simplesmente prender bandidos. É algo bem mais complexo e difícil de abordar. Mas não duvidem: a medida mais importante para sua melhoria é a compreensão de que para ser pai e mãe é necessário respeito à vida e responsabilidade.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

AS AÇÕES MAIS IMPORTANTES PARA MUDANÇAS DEFINITIVAS NA SEGURANÇA PÚBLICA

Apesar de tantos esforços, políticas esperançosas, boa vontade, discussões, programas e projetos, não existe um horizonte muito promissor quando pensamos em segurança pública e criminalidade. Os crimes continuam cada vez piores; quanto mais a polícia prende, mais criminosos surgem para serem presos; quanto mais se apreende drogas, mais pessoas existem para consumi-las. Quantos presídios ainda construiremos? Até quando apenas cobraremos solução do governo, como se o problema não fosse nosso? Talvez estejamos enxugando gelo. Talvez eu realmente seja apenas um vendedor de fumaça.
Contudo, parece-me que existe um caminho: atuar sempre e de forma coerente nas três grandes áreas da segurança pública, das quais já falei de forma geral nestes artigos. Agora pretendo explicitar como atuar em cada uma delas, quais ações podem ser úteis.
A primeira grande área trata das questões estruturais, mais importantes, que realmente atuam na causa do problema. Essas soluções são de longo prazo, mas o primeiro passo precisa ser dado hoje, com coragem e persistência para nos mantermos firmes no propósito ao longo dos anos, mesmo que os resultados demorem para aparecer.
É nessa primeira grande área que temos a única solução possível para nossa sociedade melhorar (e consequentemente a segurança pública), pois somente quando cuidarmos de nossas crianças poderemos chegar a uma verdadeira solução. O caminho é longo, mas é a única mudança real possível, a única democracia verdadeira. O que vem sendo feito no campo tradicional da segurança pública é necessário, mas enquanto a realidade e a sociedade são alteradas, melhoradas, enquanto uma nova realidade democrática efetiva é construída.
A segurança pública/polícia não é a solução para a nossa sociedade. É o remédio que nos faz sobreviver enquanto a cura é construída. Todos temos que construir e isso começa em casa, na família. Não podemos apenas cobrar mais segurança e esperar. Uma nova sociedade é feita por todos nós. Não é caso de polícia! Todos podem fazer alguma coisa, ensinar alguma coisa, colaborar com alguma coisa.

domingo, 5 de maio de 2013

Livro "A Melhor Maneira de Viver: inquietações da razão humana" na Revista IDEIAS

A Revista Ideias - do jornalista, escritor e colunista político Fábio Campana (http://www.fabiocampana.com.br/) - publicou, na Seção Prateleira, uma pequena crítica sobre o meu livro "A Melhor Maneira de Viver: inquietações da razão humana", a qual gostei e agradeço.

 
 
Inquietações da razão humana
De Rafael Ferreira Vianna                   
Em A Melhor Maneira de Viver – Inquietações da Razão Humana, Rafael Ferreira Vianna apresenta reflexões que se bastam. Conforme o próprio autor aponta, seus artigos dispensam introdução e conclusão, eles se apresentam e se encerram. Ao longo do livro, Vianna mostra seu ponto de vista sobre questões existenciais que lhe incomodam e estimulam. Na pauta, temas como o amor, a morte, a liberdade, a condição humana e a passagem do tempo. Mais do que reflexões, o livro tem a intenção de ser uma breve reprodução da alma, de nossa mente e da consciência humana. A obra é inspirada e, até certo ponto, sustentada em uma vida que não se basta. O livro foi publicado em 2012, pela Editora do Chain. Rafael Ferreira Vianna é delegado, mestre em Ciências Jurídico-Criminais pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL) e graduado em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
FC
 
 
 

quarta-feira, 1 de maio de 2013

"A banalização de medidas autoritárias" - texto de Humberto Verona

Já li este texto há algum tempo, mas quando o reli hoje achei imprescindível dividi-lo com mais pessoas. Sua leitura nos provoca reflexões importantes sobre os nossos problemas, nossos medos e as soluções que arranjamos para eles.
 
A banalização de medidas autoritárias
por HUMBERTO VERONA (especialista em saúde pública pela USP e presidente do Conselho Federal de Psicologia)
Publicado em 19/02/2013, no Jornal Folha de São Paulo
 
Desde o fim do ano passado, veículos de comunicação têm noticiado a expansão da política de internação compulsória de crianças, adolescentes e adultos usuários de crack no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Tratar o consumo de crack como uma epidemia, além de ser um equívoco de interpretação dos dados epidemiológicos, que não demonstram isto, provoca uma reação social que instaura o medo e autoriza a violência e a arbitrariedade, justificando medidas autoritárias, coercitivas e higienistas.
Para o Conselho Federal de Psicologia (CFP), usar a internação compulsória como medida emergencial para tratamento de drogas revela a falta de cuidado e de atenção à saúde dos usuários, além de reafirmar a falha do Estado na criação e aplicação de políticas públicas.
Acionar políticas emergenciais como internar involuntariamente implica em atualizar modelos de intervenção amplamente criticados por profissionais, pesquisadores na área de ciências humanas e sociais e pelos movimentos sociais, como o da luta antimanicomial.
É preciso superar o mito de que o usuário de drogas é perigoso, perdido, irrecuperável ou um monstro.
Tais ideias provocam uma urgência de respostas mágicas, levam a sociedade a demandar medidas políticas sem a prévia reflexão necessária, justificando e legitimando a violência contra estes indivíduos.
O usuário precisa do cuidado em liberdade, por meio de uma rede intersetorial e de políticas públicas que caminhem para a reinserção na sociedade, não que aumentem as disparidades sociais, a marginalização.
A política pública de saúde já desenvolveu dispositivos clínicos e assistenciais como a redução de danos, os consultórios de rua, os Centros de Atenção Psicossociais Álcool e Drogas (Caps-Ad) e outros recursos que são menos invasivos e violentos. Eles têm mostrado resultados importantes na abordagem e no cuidado com os usuários, respeitando sua autonomia e liberdade.
O modelo de atenção aos usuários de drogas deve ser pautado na lei 10.216 de 2001, que redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Isso significa que instituições asilares, como as comunidades terapêuticas, não devem ser opção para o tratamento com recursos públicos.
A internação compulsória aparece como algo que resolve magicamente todos os problemas. Com a excessiva propaganda governamental, corre o risco de virar uma prática corriqueira e, portanto, banalizada. Como medida de impacto coletivo, essa política tem se mostrado um fracasso. Os usuários são levados, isolados, medicalizados e depois voltam para um espaço social conturbado, difícil e limitador.
Coerente com o seu compromisso com os direitos humanos, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) é uma das 53 entidades que compõem a Frente Nacional de Drogas e Direitos Humanos (FNDDH).
A frente luta pela defesa de uma política sobre drogas no Brasil baseada na garantia dos direitos humanos e sociais - não na repressão policial, em ações higienizadoras e criminalizadoras da pobreza.
O CFP, junto com a frente, considera urgente a discussão da descriminalização das drogas. Falamos do usuário, mas não falamos da política proibicionista. É importante lembrar que medidas como a internação compulsória ajudam a criminalizar e a ampliar o caráter punitivo aos usuários drogas.