quarta-feira, 28 de agosto de 2013

EU OS COMPREENDO, MAS NÃO SEREI VÍTIMA DELES


Gostaria de ser um ourives das palavras, como li no livro Trem noturno para Lisboa. E é por isso que hoje gosto mais de escrever sobre filosofia e assuntos que permitem uma reflexão interior e um aprofundamento sobre o espírito humano do que simplesmente sobre segurança pública.

Não que não escreva sobre segurança pública ou que isso não tenha relação com ela, pois isso também a toca, mas é muito mais do que já foi um dia, é muito mais complexo e promissor do que dicas pontuais sobre como não ser vítima de criminosos. Sou grato por ter escrito sobre criminologia, dicas de segurança, qual a melhor forma de punição, qual a melhor política criminal. Ainda escreverei sobre isso neste espaço, quando tratar da 2ª grande área da segurança pública, mas atualmente tenho que tratar um pouco mais da 1ª grande área, da única transformação real e possível.

Temas sobre o que entendemos tradicionalmente como segurança pública são importantes, mas transformam-se em algo pequeno, transitório e terreno quando os comparamos com alguns temas que podemos abordar na filosofia. Talvez minha religião seja essa fé inconcebível de que, quando as pessoas se aprofundarem no interior de suas almas, a sociedade e a segurança pública estarão resolvidas. Quem sabe seja esta fé incongruente que me faça escolher isso e não o que já fui um dia.

Sou grato por tudo que a segurança pública me forneceu para escrever, mas hoje escrevo para ensimesmar-me, para ser um ourives do espírito, para entender a essência da alma humana. Acredito mais nisso do que em polícia.

Entretanto, isso não tem nada a ver com meu trabalho diário, com minha profissão de Delegado de Polícia, com meu dia a dia. Digo que não tem nada a ver, ainda que tenha em alguma escolha, em alguma forma de atuação, em algum tom mais singelo, por toda essa busca não me impedir de combater diretamente o crime e atuar de forma dura quando assim a situação exige.

Lá, apesar de entender a tragédia humana que envolve o crime e o delinquente, apesar de compreender algumas vezes os criminosos e suas razões, tenho o firme propósito de não ser vítima e não permitir que pessoas inocentes sofram diante do crime, seja qual for o motivo para que ele ocorra ou para que alguém o cometa. Posso entender um criminoso, e até lamentar a vida desgraçada que o levou até ali, mas não serei sua vítima jamais.

Isso não resolve nada, mas nos faz sobreviver. É para sobreviver que trabalho, mas é para resolver que escrevo.

domingo, 25 de agosto de 2013

SEGURANÇA PÚBLICA?


Tudo que escrevo pode ser jogado sistemicamente dentro de uma das três grandes áreas da segurança pública, uma divisão que criei para explicar a complexidade dessa área da sociedade, de atuação e de conhecimento.

Divido a segurança pública e escrevo sobre isso para atingir mais facilmente as pessoas, para conseguir escrever com alguma autoridade - já que as pessoas valorizam isso antes de saberem o conteúdo do que é pensado e escrito - para aproveitar o pavor existente da criminalidade, para fazer com que leiam.

Mas a segurança pública e o crime nos permitem reflexões muito mais profundas, nos impulsionam a isso, nos obrigam a isso. Quando se pensa em segurança pública se pensa em viver, em por que vivemos assim, em por que somos assim, em por que existe a maldade, em como o ser humano escolhe.

Pensar a criminalidade nos obriga a refletir sobre sua origem, sobre as entranhas mais profundas do ser humano e sua forma de organização em grupo, sobre o que queremos da vida, sobre para onde vamos, sobre como devemos viver a nossa existência na terra, sobre se existe um Deus Onisciente, Onipotente e Onipresente. Pensar sobre o porquê do crime nos obriga a refletir sobre o livre arbítrio, sobre o destino, sobre a sociedade e o determinismo que ela nos impõe, sobre a influência do universo em nós, sobre o que estamos fazendo até que sejamos vítimas.

Refletir sobre segurança pública nos permite caminhos indescritíveis e infinitos, ainda que não seja só isso. Antes, obviamente, temos que pensar em não sermos vítimas, em controlar o crime, em definir o que é crime, em pensar uma atuação real e possível para a polícia. Mas isso são obviedades, ainda que difíceis de serem concretizadas de forma eficiente no mundo real.

Acredito que a dificuldade em solucionar tudo isso que envolve segurança seja o enigma primeiro de entendermos o que estamos fazendo aqui e com a nossa existência. Acredito que apenas entendendo isso poderemos saber para onde estamos indo com a polícia e com a segurança pública. Antes disso é apenas esperança vã de que algo mudará ou que conseguiremos infligir um medo maior naqueles que não sabem por que vivem ou que não conseguiram interiorizar alguma ilusão para uma existência sem sentido.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

SERÁ QUE ALGUMA COISA PODE MUDAR?


Esta semana acho que descobri por que continuo escrevendo. Escrevo para me expor, para conversar comigo mesmo, para clarificar as ideias, escrevo para escrever.

Li duas frases que me fizeram refletir sobre o motivo de escrever, bem como enfrentei situações que me confrontaram a fé em uma mudança próxima com a ilusão em correr atrás do vento quando se pensa em pessoas, convivência, sociedade e segurança pública.

Clarice Lispector afirmava que não existe uma razão para continuar escrevendo. Apenas se escreve. Não há um motivo para isso. Escrever é apenas para escrever, para espelhar a alma. Já em um e-mail, de autor desconhecido, li que nem tudo o que enfrentamos pode ser mudado, mas que nada pode ser mudado até que seja enfrentado.

Acho que descobri um pouco mais do porquê me exponho, por que apresento minhas ideias, ainda que não exista qualquer necessidade disso, ainda que as perdas sejam maiores do que os ganhos. Escrevo como sinal de fé, escrevo para me expor, escrevo para chocar.

Expor ideias em um mundo em que as pessoas tem medo, choca! Em nosso mundo é um assombro expor ideias, dúvidas, sentimentos e certezas, corretas ou equivocadas. Esse é o motivo pelo qual escrevo. Assombrar as pessoas com a coragem insana de me expor, de me mostrar, de arriscar.

Quando vejo adolescentes, como vi ultimamente, agindo com a mais vergonhosa covardia de se sentir especial ao humilhar professores e colegas de colégio, tenho dúvida sobre a raça humana, sobre o sentido da vida, sobre a utilidade de falar ou acreditar na paz. Às vezes realmente chego a duvidar se a paz é o melhor caminho, se Deus realmente protege os justos, se um dia o bem vencerá, se o caminho do certo é realmente o correto.

Acho que me exponho para provar que é possível, para estimular - com uma esperança pueril de ver algo melhorar, com uma infantil necessidade de comprometer-me com um mundo que não acredito viável – pessoas a se exporem, a não continuarem na letargia da vida diária que presenciamos, onde a maldade vence e é admirada, onde os fracos covardes prevalecem, onde o mal é motivo de orgulho.

Parece-me que qualquer pequena mudança exigirá a coragem da glória da exposição, do dizer não, basta, chega, isso é errado. Temos que nos expor para impedir que o mal prospere, ainda que seja mais fácil a omissão, o silêncio e o sopor de uma vida calma e sem exposição.

domingo, 18 de agosto de 2013

POR QUE ESCREVO?


Às vezes me pergunto por que escrevo. Por que escrevi meus livros, por que mantenho meu blog, por que escrevo esta coluna. Por que me exponho em um mundo que duvido que possa ver mudar, para pessoas que tenho certeza que antes criticarão, para leitores que imaginarão uma motivação vil que eu mesmo desconheço?

Realmente não sei por que escrevo, mas acho que tem a ver com algo inexplicável da alma, com uma necessidade indizível de comprometer-me sem necessidade, com algo que ainda está por vir, com a inexprimível vontade de ser útil e a vergonha inefável de fracassar nesta existência.

Não sei por que escrevo, mas tenho uma obrigação interior de mexer com um mundo que não alcanço, de conversar com pessoas que não consigo atingir, de expressar uma liberdade que não existe em espírito algum. Acho que escrever não tem a ver com mudar o mundo, mas está longe de uma vaidade interior ou intelectual. Escrever traz mais exposição do que glória, traz mais dissabores do que contatos, arrebanha mais críticos do que admiradores. O que me faz continuar escrevendo? E mais do que isso – ainda que tenha diminuído, diga-se de passagem, ao ponto de quase parar –, o que me faz proferir palestras? Com quem eu converso em minhas palestras? Quem pode me ouvir?

Por que eu falo tanto se duvido de mim mesmo? Se minhas convicções são suaves, parcas, sempre temporárias? Às vezes não entendo o porquê, mas quando vejo já estou fazendo, aceitando, discutindo, me expondo. Será tão somente vaidade e arrogância?

Talvez seja apenas isso, mas por que não me satisfaço com o orgulho de tudo que já tenho? Já me perguntei isso antes, mas agora é mais específico. Questiono a exposição, o tempo que deixo passar escrevendo, as minhas ideias que trago ao palco, quando bastaria não trazer. Subir ao palco com dúvidas não tem sentido, expô-las menos ainda. Se fosse vaidade e orgulho, eu teria que me satisfazer, sentir prazer, sentir-me superior. Mas resta a dúvida de perder os finais de semana com algo que ainda não descobri o motivo, a razão ou a causa. Sei que me exponho, apresentando um teatro de ideias que pouco me convencem.

domingo, 11 de agosto de 2013

Delegado Rafael Vianna aproveita lançamento do livro "Resgate Vertical" para descer de rapel os 100 metros da Torre da Telepar


O Capitão Eduardo José Slomp Aguiar, do Corpo de Bombeiros do Paraná, lançou seu primeiro livro, "Resgate Vertical", que reúne informações sobre técnicas nacionais e internacionais de resgate.
Instrutor na área de salvamento e resgate vertical, Eduardo atua hoje como um dos colaboradores da Secretaria de Grande Eventos, do Ministério da Justiça, na elaboração de protocolos operacionais para resposta a incidentes.
 

Durante o lançamento do livro, que ocorreu na famosa Torre Panorâmica de Curitiba ou Torre da Telepar (http://www.curitibacity.com/mirantes/76-torre-da-telepar.html), ocorreu uma demonstração de rapel, oportunidade em que o Delegado Rafael Vianna também pode descer os 100 metros da Torre.
 
  
Outras informações e fotos do lançamento podem ser vistas no site da Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná:
 
O livro pode ser adquirido pelo site da Associação da Vila Militar (AVM): www.avmpmpr.com.br

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

LEI SECA, LEI JUSTA?


As indústrias automobilísticas constroem carros velozes, fazem propagandas bonitas, alijam nossa economia e nosso pensamento de novas produções e possibilidades. Somos reféns dos carros, escravos, viciados que não conseguem ver outra forma de viver, de manter a economia, os empregos, os tributos. Somos viciados em carros, pois não podemos largá-los, uma vez que eles elegem e nos impedem de falar e pensar.

E sobra para quem? Para duas taças de vinho. Elas causam as mortes no trânsito, nossas tragédias e nossos fins. Poucos falam da velocidade como causadora e propulsora da violência no trânsito, ainda que seja lembrada vez por outra. Todos falam do álcool. Ocorre que existe uma diferença muito grande entre tomar duas taças de vinho em um jantar com seus avós e beber desenfreadamente a noite inteira em uma balada ou em uma festa rave. Existe uma diferença entre uma taça de vinho em uma refeição e um espírito doentio e indiferente à vida humana guiando em alta velocidade.

Por que construímos carros que podem chegar a 200 Km/hora se nossa lei apenas permite 110 km/hora? Por que nossos veículos fazem propaganda de que atingem maior velocidade em menor tempo, se o objetivo dos veículos não é desrespeitar as leis de trânsito que estabelecem limites reduzidos de velocidade? Já escrevi em outros artigos que carros velozes são feitos para correr e que não existe lógica alguma em nossa lei permitir que fabricantes de veículos construam carros velozes. Isso é contrário às leis.

Há diferença entre o completamente embriagado e que dirige em altíssima velocidade; e aquele que bebeu apenas duas taças de vinho e volta devagar e com cuidado redobrado para casa. Não defendo que o álcool não é perigoso ou não causa efeito nenhum nos sentidos e nos reflexos, mas aí também teremos que transformar em crimes as condutas de dirigir falando ao celular, trocando CD ou escolhendo a estação no rádio, levando crianças no banco de trás (que não param de gritar, brigar e diminuir nossa atenção) ou com sono. Tudo isso afeta nossa atenção e nossos reflexos no trânsito. Tudo isso é perigoso e não recomendado.

O que falta para a tragédia? A velocidade. É ela que mata. É ela o fator comum em todos os acidentes graves, com mortes, que mutilam. Some velocidade, álcool e um espírito doentio e indiferente à vida, e teremos uma tragédia. Mas a lei não diferencia quem tomou duas taças de vinho em um jantar com os avós e quem bebeu a noite inteira e sai dirigindo loucamente em alta velocidade. Com um pouco de álcool no sangue qualquer um é considerado criminoso, preso, multado, proibido de dirigir. A velocidade é diferente, pois carros velozes fazem parte de nossos sonhos.

sábado, 3 de agosto de 2013

NÃO GOSTO DE CARROS


Não gosto da indústria automobilística. Elas estimulam sonhos consumistas e a ilusão de que seremos alguém ao termos um objeto que logo se estragará. Elas recebem estímulos fiscais e tributários que os produtores de alimentos não recebem. Elas contribuem sobremaneira com a poluição e a destruição do meio ambiente. Elas escravizam nossa economia, refém da produção de carros, uma ilusão que nos leva para lá e para cá em um mundo sem sentido, no qual não sabemos para onde vamos.

Não precisamos pensar em nosso destino, para onde caminhamos, nisso tudo, coisas chatas e sem sentido em um mundo veloz, rápido e divertido. Desde que possamos ir rápido, muito rápido, realmente com velocidade e emoção. Os carros nos fazem viver!

Definitivamente não gosto da indústria automobilística. Os pátios cheios de carros me fazem mal, me causam angústia, me antecipam os congestionamentos intermináveis, os sonhos vazios e individualistas, as mortes nas estradas e em brigas sem sentido. Às vezes chego a achar que sou socialista. Mas não sou! Não aquele socialismo, daqueles pseudocomunistas tirânicos e homicidas. Além do mais, gosto do conforto do capitalismo, dos pequenos prazeres da vida, das ilusões que se criam momentaneamente.

No entanto, sou maior do que isso, minha vida tem outros desígnios, meus dias não são apenas para degustar os prazeres e os confortos do dinheiro. Viver tem que ser mais do que isso. Não posso ter o sonho de comprar um carro quando posso ter o sonho de acabar com a fome de uma família, quando posso pagar os estudos de crianças desafortunadas, quando posso trabalhar voluntariamente em hospitais onde tragédias brotam como água no Brasil. Sonho em ter um carro para dias chuvosos, para um passeio no final de semana, para viagens de férias.

Férias! As concessionárias de veículos e as produtoras de cervejas nos vendem férias. Ilusão de descanso em um mundo duro demais. Com um carro e uma cerveja podemos ser felizes, andar nos lugares mais belos do mundo, ter as melhores mulheres, sermos livres. Carros e cervejas nos dão férias de nós mesmos e de nossas vidas. Definitivamente, não gosto da indústria automobilística.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

ORQUESTRA SINFÔNICA DO PARANÁ - Por Rafael F. Vianna


Eu preciso da ordem de uma orquestra para demonstrar a não inevitabilidade do caos no mundo. Eu preciso de tempos em tempos parar para ouvir e ver muitas coisas improváveis darem certo para acreditar na vida humana em sociedade.

Um concerto é, provavelmente, o mais próximo de uma sociedade e uma vida ideal. Todos juntos, sem nenhum destaque, mas todos se destacando por sua arte e seu dom. Cada qual sabendo seu papel, onde muitos detalhes podem não dar certo, mas a harmonia acontece, sem muitas discussões ou desatinos, ainda que com tudo diferente. Há dias de calmaria, outros de trovoadas, mas sempre há harmonia, mesmo quando nosso espírito não encontra a paz. Um concerto não é explicável para quem nunca ouviu ao vivo uma orquestra sinfônica, e é por isso que todos deveriam ir um dia.

A Orquestra Sinfônica do Paraná se apresenta periodicamente no Teatro Guaíra, muitas vezes domingo de manhã, com entrada franca. Todos deveriam ir alguma vez na vida, para entender do que eu falo. Mesmo quem não gosta de música clássica pode observar como as coisas dão certo, mesmo com tudo para dar errado. O gênio humano supera o caos e isso nos faz acreditar na vida, mesmo diante de tantas tragédias inexplicáveis.

Eu realmente preciso assistir a uma orquestra para que a incerteza e a incompletude do mundo não dominem os meus dias, para que eu possa acreditar – assim como acredito quando observo a natureza e sua harmonia bestial – que para todo caos existe uma explicação e que um caminho é traçado em alguma dimensão ou sentido que ainda não consigo compreender.

Quando estou diante de uma orquestra deixo de questionar muitas coisas, ainda que tudo isso passe ao final do espetáculo. Logo volto a perguntar: se Deus é onipotente e onisciente, capaz de atuar no mundo e na vida das pessoas, como pode permitir que pessoas boas e virtuosas sejam vítimas de crimes violentos e atrozes ou de tragédias indescritíveis? Quase sempre é melhor não pensar, não ir tão fundo na alma humana. Queria ter medo de perguntar.

Os músicos da Orquestra Sinfônica do Paraná não sabem o bem que fazem, as provas que propiciam, a paz e esperança que criam. Ouvir uma orquestra é deixar a desordem do mundo e ver que a vontade humana supera o caos e compreende Deus. Obrigado por isso!