sábado, 30 de novembro de 2013

TEMPO DE SILÊNCIO – DESPEDIDA DESTE COLUNISTA


Hoje é meu último artigo desta fase, deste bom período. O mundo como eu imaginava mudou muito. Já não tenho as mesmas certezas, os mesmos caminhos, os mesmos anseios.

Teria muito para escrever e dividir, ainda mais aqui na Europa, com tanta coisa diferente. Mas não tenho mais vontade, não vejo mais sentido. Meus valores mudaram, meus rumos, minhas convicções. Não tenho mais por que escrever. Tudo que parecia tão importante agora se desfaz em completa necessidade de silêncio, de proximidade interior, de avaliação e desfrute.

Preciso do silêncio de uma catedral para acreditar no que vivo, em meu futuro, em tantas possibilidades inesperadas para esta vida. Não há tristeza nisso tudo, mas ausência de sentido no mundo como conhecia, nas coisas que desejava, no por que eu trabalhava e escrevia. Não tenho mais por que escrever para o grande público. Não tenho mais por que me expor.

Um dia talvez eu volte, talvez precise de alguma expansão, volte a acreditar na partilha com o mundo. Agora, só quero escrever para os mais próximos, para aqueles que amo, para os meus livros eternos.

Preciso do silêncio para refletir sobre meus estudos acadêmicos, sobre meus dias e meu futuro promissor, sobre minha vida que se abre cheia de possibilidades, ainda que tão diferentes das que imaginava antes. Não posso dividir meus escritos de hoje, pois seriam palavras excessivamente ásperas sobre o poder, a polícia, o sentido da vida, do trabalho, das rotinas, sobre a distância.

É hora de ensimesmar-me, de sumir do mundo dos outros, de aquietar meu espírito e crescer. É tempo de degustar os pequenos prazeres, o silêncio, a leitura, o passeio no campo, o sol batendo no rosto. Tenho medo de querer viver na Provence e nunca mais voltar. Valorizo outras coisas agora. Todo resto não tem mais sentido. E era tão certo, tão importante, tão avassalador…

Despeço-me por um tempo, pois para sempre é sempre muito tempo, ainda que para algumas coisas importantes seja sempre insuficiente. Minha vinda para Lisboa mudou meu mundo, meus anseios, meus sonhos, meus projetos. Tudo que era ficou tão distante... Como um trem que deixa estações para trás, as quais antes eram tão importantes, imponentes e que dominavam a cidade. Quando vistas de longe, são apenas estações sem qualquer importância.

Faço orações diárias, meditações, leituras, passeios a pé. Fico dias em silêncio absoluto, como nunca imaginei poder, falando apenas com a pessoa que importa. Preciso do silêncio, da sua paz, das suas lições, do isolamento do mundo ruim. Preciso da paz de uma catedral antiga, como tantas que visito por aqui. Preciso retrair meu espírito e guardá-lo para quem me envolve. Não sei se vou querer expandi-lo novamente, mas sei que nunca mais da mesma forma como antes. Hoje só me importa a certeza que eu sinto: construímos o nosso mundo, ainda que ninguém mude o destino. Fatum!

6 comentários:

  1. Dr. Rafael,

    Há pouco conheci o blog e comecei a acompanhar as postagens e reflexões. Em parte digo que é uma pena a sua pausa, porque particularmente considero um site de conteúdo. Ainda não adquiri seus livros, mas pretendo conferir o diálogos sobre segurança e o crime, processo, pena e desculpa. Tenha a certeza de que seu esforço e produção científica são/foram muito valiosas. Já disse aqui anteriormente que me empenho para o concurso de Delegado de Polícia e, tendo acesso a esse blog, vi que muito mais do que truculência, atualmente o que de fato a profissão demanda é reflexão e razoabilidade. Difícil imaginar que um tempo fora do país, principalmente na Europa, não influa em alguém que tenha se submetido à realidade da segurança pública brasileira, portanto, plenamente compreensível a sua decisão.

    Seguirei visitando o blog esporadicamente para verificar se retornou às postagens.

    Atenciosamente,
    Tiago Ferreira.

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  2. Dr. Rafael,
    Alguns momentos de solidão voluntária é saudável. Aproveite este momento para refletir sobre si mesmo e sobre as coisas que o cercam. Dê apenas um tempo... mas não deixe de escrever, pois suas ponderações são muito valiosas. O teu esforço é fruto do teu sucesso! Continue sempre assim!
    Um forte abraço do teu amigo - Peninha

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  3. Dr. Rafael

    Meu nome é Carlos Augusto, conheci seu blog através de uma prima minha que fez escola de magistratura juntamente com o sr., o nome dela é Renata. Fui estagiário na 14ª S.D.P Guarapuava e tenho como objetivo o concurso pra Delegado. Sou um fã do sr. e muitos de seus textos encaixam com o que penso, faço e até mesmo sinto. É interessante ver como aborda a questão de segurança com um olhar cientifico e ao mesmo tempo de policial, acredito que talvez se houvessem mais policiais assim, as coisas poderiam ficar mais faceis.
    Gostaria de fazer um pedido, se pudesse falar sobre os estudos na questão de terrorismo e a função policia em missões de paz ficaria agradecido, porque são questões que me interessam e muito, além da atividade de inteligencia e contra o crime organizado. Força e Honra! E boa sorte nessa nova etapa de sua vida.

    Atenciosamente,

    Carlos Augusto

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  4. Mestre, só posso desejar muita luz, sucesso, e que o nosso criador te ilumine sempre. Grande abraço.

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  5. Encerrando Ciclos

    "Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos - não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram."
    Caro Ir.: Rafael viva esta nova etapa de sua vida e que o G.:A.:D.:U.: te ilumime e te de sabedoria para seu sucesso neste novo ciclo de sua vida.
    T.:F.:A.:
    Piske.

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  6. Prof. Rafael

    Ouvir o silêncio, é o que está fazendo, espero que assim que puder volte, pois suas obras são importantes para todos os envolvidos, afinal como diria o filosofo Hugo von Hofmannsthal : "que nada está no ambiente político de um país que não esteja primeiro em sua literatura. Porque é do imaginário formado que você tira as idéias".

    Saudações

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