Hoje
é meu último artigo desta fase, deste bom período. O mundo como eu imaginava
mudou muito. Já não tenho as mesmas certezas, os mesmos caminhos, os mesmos
anseios.
Teria
muito para escrever e dividir, ainda mais aqui na Europa, com tanta coisa
diferente. Mas não tenho mais vontade, não vejo mais sentido. Meus valores
mudaram, meus rumos, minhas convicções. Não tenho mais por que escrever. Tudo
que parecia tão importante agora se desfaz em completa necessidade de silêncio,
de proximidade interior, de avaliação e desfrute.
Preciso
do silêncio de uma catedral para acreditar no que vivo, em meu futuro, em
tantas possibilidades inesperadas para esta vida. Não há tristeza nisso tudo,
mas ausência de sentido no mundo como conhecia, nas coisas que desejava, no por
que eu trabalhava e escrevia. Não tenho mais por que escrever para o grande
público. Não tenho mais por que me expor.
Um
dia talvez eu volte, talvez precise de alguma expansão, volte a acreditar na
partilha com o mundo. Agora, só quero escrever para os mais próximos, para
aqueles que amo, para os meus livros eternos.
Preciso
do silêncio para refletir sobre meus estudos acadêmicos, sobre meus dias e meu
futuro promissor, sobre minha vida que se abre cheia de possibilidades, ainda
que tão diferentes das que imaginava antes. Não posso dividir meus escritos de
hoje, pois seriam palavras excessivamente ásperas sobre o poder, a polícia, o
sentido da vida, do trabalho, das rotinas, sobre a distância.
É
hora de ensimesmar-me, de sumir do mundo dos outros, de aquietar meu espírito e
crescer. É tempo de degustar os pequenos prazeres, o silêncio, a leitura, o
passeio no campo, o sol batendo no rosto. Tenho medo de querer viver na
Provence e nunca mais voltar. Valorizo outras coisas agora. Todo resto não tem
mais sentido. E era tão certo, tão importante, tão avassalador…
Despeço-me
por um tempo, pois para sempre é sempre muito tempo, ainda que para algumas
coisas importantes seja sempre insuficiente. Minha vinda para Lisboa mudou meu
mundo, meus anseios, meus sonhos, meus projetos. Tudo que era ficou tão
distante... Como um trem que deixa estações para trás, as quais antes eram tão
importantes, imponentes e que dominavam a cidade. Quando vistas de longe, são
apenas estações sem qualquer importância.
Faço
orações diárias, meditações, leituras, passeios a pé. Fico dias em silêncio
absoluto, como nunca imaginei poder, falando apenas com a pessoa que importa.
Preciso do silêncio, da sua paz, das suas lições, do isolamento do mundo ruim.
Preciso da paz de uma catedral antiga, como tantas que visito por aqui. Preciso
retrair meu espírito e guardá-lo para quem me envolve. Não sei se vou querer
expandi-lo novamente, mas sei que nunca mais da mesma forma como antes. Hoje só
me importa a certeza que eu sinto: construímos o nosso mundo, ainda que ninguém
mude o destino. Fatum!