ERA SÓ UM CINEMA
Era
para ser apenas uma tarde de cinema em um shopping de Curitiba. Pipoca, filme,
sala não muito cheia. Tudo normal em uma bela tarde de domingo.
Aí,
um senhor da fileira de trás, acompanhado de sua esposa e filha, solicita
silêncio para outro senhor, sentado na minha fileira, mas distante umas cinco
cadeiras, já que o cinema estava vazio. O senhor da minha fileira conversava
com o filho adolescente durante o filme, mas nada que incomodasse muito.
De
qualquer forma, cinema não é lugar de conversar e o pedido do homem de trás foi
gentil e indiferente. Mas o senhor da minha fileira não encarou assim e virou
falando:
- Você tá me mandando calar a boca? Quem você
pensa que é? Quer levar porrada?
Que
belo exemplo para o filho adolescente. Faz errado, atrapalha os outros e ainda
acha que tem razão. Contudo, o senhor da fileira de trás não retrucou e apenas
pediu para ele fazer silêncio e assistir ao filme tranquilo.
Não
foi o suficiente. O valentão continuou chamando o senhor para irem lá fora resolver
a pendenga. E eu? Apenas tentando assistir ao filme. Mas não ia terminar assim.
Estava escrito! Tive que começar a me preparar para intervir. Coisa que não
gostaria de fazer em um domingo, "de folga".
Mais
dois ou três minutos e não deu outra: os dois se atracaram em uma briga dentro
do cinema. Tive que levantar, gritar que era polícia, que os dois iriam em cana
e que era para saírem imediatamente. Fui com os dois para fora da sala de
cinema.
Mais
discussão, explicações, ponderações e ficou acertado que iríamos voltar e
assistir ao filme sem conversas e agressões. A outra opção era irmos todos para
a Delegacia.
O
restante do filme transcorreu sem incidentes, apesar da adrenalina e da tensão
que tive que enfrentar em um momento que era para ser de descanso. Tem coisas
que as pessoas e a mídia não entendem, mas um policial está sempre de serviço.
Não consigo fingir que não vejo, que não é comigo. Não posso chamar a polícia
para resolver. Afinal de contas, eu sou a polícia.
No
final do filme teve mais. Os dois voltaram a ficar muito nervosos quando se
encontraram do lado de fora. Filhos chorando, velhinhos chocados, seguranças do
shopping a postos. Mais uma vez intervi e lhes expliquei que não existiria
vencedor naquela disputa, apenas perdedores. Acataram as minhas sugestões e
cada um foi para um lado. Um crime a menos. Mas o que esperar das pessoas?
NOJO DE GENTE: REGRAS DE CONVIVÊNCIA
Na
semana passada contei sobre a briga que presenciei e tive que mediar em um
cinema de Curitiba. Hoje, trago algumas regras de convivência que todos deveriam
seguir para evitar transtornos ou inconvenientes com outras pessoas.
Às
vezes penso que não precisaria abordar isso, mas quando vejo dois senhores, na
presença de seus filhos adolescentes e de suas esposas, brigarem como se fossem
cães de rua, tenho certeza de que o ser humano precisa ouvir coisas óbvias. Nem
que seja para se lembrar de como é ridículo e degradante esquecermos coisas
óbvias em nosso dia a dia.
Relembro
que os senhores da briga no cinema não eram sem formação ou de um nível social
baixo. E o cinema não era de periferia ou de nível ruim. Ao contrário, os
senhores eram de meia idade, ricos e o cinema era no Batel.
Pois
bem. Vamos às obviedades.
1ª
regra de convivência social: seja sempre discreto.
Ninguém
quer ouvir você falar alto, espirrar alto, arrotar, contar seus grandes feitos
e conquistas, ver você agarrar sua mulher, seu parceiro, ou seja lá o que for,
de forma acintosa.
2ª
regra: evite a proximidade física com pessoas que você não conhece em um local
público.
Isso
quer dizer que se o cinema estiver vazio, você não deve sentar próximo às
pessoas que chegaram antes de você. Respeite o espaço das pessoas e sempre que
tiver opção não sente próximo ou na frente de quem já está lá.
3ª
regra: não converse no cinema, não fale alto em hipótese alguma, nem ria alto,
nem aborde uma pessoa que você não conhece na rua de forma incisiva. Seja pelo
motivo que for.
4ª
regra: quando você quiser beber muito, rir muito, cantar muito, chorar muito ou
ouvir som alto, tranque-se no quarto com um fone de ouvido. Nunca escute som
alto, nem no seu carro no sinal, nem no fone de ouvido no ônibus. Dependendo da
altura do som, ele incomoda o passageiro ao lado. Música alta é só com fone de
ouvido, mas também é no seu quarto. Nunca escute som alto em sua casa, pois
provavelmente existirão vizinhos que têm todo direito de não gostarem ou não
quererem ouvir a sua música naquele momento.
5ª
regra: tenha vergonha de incomodar ou ser notado por outra pessoa em um local
público. Tenha vergonha! Não ache ruim, pois ninguém quer saber de suas idiossincrasias.
Lembre-se: seja sempre discreto.
Seria
cômico ler essas regras se elas não estivessem em uma coluna de segurança, se
não fossem escritas por alguém que pensa sobre a violência e a criminalidade,
se não fosse realmente necessário dizer. Às vezes chego a entender um amigo que
diz que tem nojo de gente.