sábado, 24 de março de 2012

Quando Deus criou o policial

Não sei quem escreveu o texto abaixo, pois o recebi de um amigo, por e-mail, com a indicação de autor desconhecido. Ainda assim, posto o texto em meu blog para refletirmos sobre o trabalho policial, suas angústias, frustrações, realizações e exigências.
Como escrevi em meu livro, os bons policiais são construtores de nossa sociedade e merecem nossa gratidão. Um dia voltarei a publicar neste espaço os meus artigos de homenagem aos bons policiais.
Que sirva de estímulo para os bons policiais civis, militares, federais e guardas municipais continuarem, apesar das dificuldades.

Quando Deus criou o policial
Deus estava no sexto dia de horas extraordinárias, quando aparece
um Anjo e lhe diz:
- Estás levando muito tempo nesta criação Senhor! O que tem de tão
especial este homem?
Deus respondeu:
- Tu já viste o que me pedem neste modelo?
- Um policial tem que correr 10 km por ruas escuras, subir paredes, pular muros, entrar em matagais, entrar em casas que nem um fiscal de saúde pública ousa penetrar, e tudo isso, sem sujar, manchar ou rasgar o seu uniforme.
Tem que estar sempre em boa forma física, quando nem sequer lhe dão tempo para comer.
Tem que investigar um homicídio, buscar provas nessa mesma noite e, no outro
dia, ir até o tribunal prestar depoimento.
Também tem que possuir quatro braços, para poder dirigir sua viatura, atirar contra criminosos e ainda chamar reforço pelo rádio.
O anjo olha para Deus e diz:
- Quatro braços? Impossível!
Deus responde:
- Não são os quatro braços que me dão problemas e sim os três pares de olhos de que necessita.
- Isto também lhe pedem neste modelo?, pergunta o Anjo.
- Sim, necessita de um par com raio-x, para saber o que os criminosos escondem em seus corpos. Necessita de um par ao lado da cabeça para que possa cuidar de seu companheiro e outro para conseguir olhar uma vítima que esteja sangrando e ter discernimento necessário para dizer que tudo sairá bem, quando sabe que isto não corresponde à verdade.
Neste momento, o Anjo diz:
- Descansa e poderás trabalhar amanhã.
- Não posso, responde Deus!
- Eu fiz um policial que é capaz de acalmar ou dominar um drogado de 130 quilos sem nenhum incidente e, ao mesmo tempo, manter uma família de cinco pessoas com seu pequeno salário. Ele estará sempre pronto para morrer em serviço, com sua arma em punho e com sentimento de honra correndo junto ao sangue.
Espantado o Anjo pergunta a Deus:
- Mas Senhor, não é muita coisa para colocar em um só modelo?
Deus rapidamente responde:
- Não. Não irei só acrescentar coisas, mas também irei tirar. Irei tirar seu orgulho, pois infelizmente para ser reconhecido e homenageado ele terá que estar morto. Ele também não irá precisar de compaixão, pois ao sair do velório de seu companheiro, ele terá que voltar ao serviço e cumprir sua missão normalmente.
- Então ele será uma pessoa fria e cruel?, pergunta o Anjo.
- Certo que não!, responde Deus.
- Ao chegar em casa, deverá esquecer que ficou de frente com a morte, e dar um abraço carinhoso em seus filhos dizendo que está tudo bem.
Terá que esquecer os tiros disparados contra seu corpo, ao dar um beijo apaixonado em sua esposa. Terá que esquecer as ameaças sofridas, ao ficar desesperado quando o salário não der para pagar as contas no final do mês e terá que ter muita, mas muita coragem para, no dia seguinte, acordar e retornar ao trabalho, sem saber se irá voltar para casa.
O anjo olha para o modelo e pergunta:
- Além de tudo isso, ele poderá pensar?
- Claro que sim!, responde Deus.
- Poderá investigar, buscar e prender um criminoso em menos tempo que cinco juízes levam discutindo a legalidade dessa prisão?
- Poderá suportar as cenas de crimes, as portas do inferno, consolar a família de uma vítima de homicídio e, no outro dia, ler nos periódicos que os policiais são insensíveis aos direitos dos criminosos.
Por fim, o Anjo olha o modelo, lhe passa os dedos pelas pálpebras, e fala para Deus:
- Tem uma cicatriz, e sai água. Eu te disse que estavas pondo muito nesse modelo!
- Não é água, são lágrimas!, responde Deus.
- E por que lágrimas? perguntou o Anjo.
Deus responde:
- Por todas as emoções que carrega dentro de si!
Por um companheiro caído, por um pedaço de pano chamado bandeira, por um sentimento chamado Justiça!
- És um gênio!, responde-lhe o Anjo.
Deus o olha, todo sério, e diz:
- Não fui eu quem lhe pus lágrimas. Ele chora, porque é simplesmente um homem.

***Dedicado a todos os guerreiros anônimos, que deixam suas casas, famílias, amigos e sonhos, encarando a morte no combate à criminalidade, garantindo assim a ordem pública e zelando pela nossa segurança, mesmo que isso custe suas próprias vidas!***

Autor desconhecido.

sábado, 17 de março de 2012

Delegado Rafael Vianna profere palestra no Projeto Educação e Apoio à Maternidade

O Delegado Rafael Vianna proferiu a palestra "Medidas de Prevenção e de Proteção na Família" para um grupo de pais que participam do Projeto Educação e Apoio a Maternidade.
O projeto faz parte do Programa Ciranda de Pais e consiste em orientar e formar pais (com extrema dificuldade social, econômica e financeira) para bem educar seus filhos e para planejar e pensar a família.
Na palestra, Rafael Vianna apresentou questões importantes sobre como a família pode formar cidadãos e indivíduos não violentos e não vulneráveis para a criminalidade.
Com uma linguagem acessível, a palestra revela que atos simples adotados pelas mães e pais podem contribuir e modificar a segurança pública no futuro. Dar banho, escovar os dentes, demonstrar afeto, perguntar como foi o dia e frequentar a escola do filho, por exemplo, podem contribuir para uma nova visão de mundo entre nossas crianças e adolescentes.
"Além de algumas atitudes ajudarem em outras áreas, como saúde e higiene, elas colaboram efetivamente com a segurança pública e com a mudança de valores em nossa sociedade. O simples fato de participar da vida escolar do filho cria uma relação de afeto e confiança, que vem a influenciar esta criança no futuro em suas relações sociais. Ela passa a criar valores positivos que a fazem compreender a importância de se viver em sociedade, com outra pessoas. Isto é segurança pública", diz Rafael Vianna.

O Projeto Educação e Apoio à Maternidade ocorre todo primeiro domingo de cada mês, na Escola Estadual Rosi Galvão, Pinhais-PR. Mais informações podem ser obtidas através do e-mail crisarns@hotmail.com, com a Professora Doutora Cristiane Arns de Oliveira, idealizadora e coordenadora do Programa Ciranda de Pais.

sábado, 10 de março de 2012

A verdadeira solução em questão de segurança pública

Tudo que tentamos fazer em segurança pública parece pouco. A polícia prende, faz operações, morre, mata, investiga....E? Parece que nada muda. Às vezes, realmente parece que em segurança pública e políticas criminais nada funciona (nothing works).
Apesar de tantos esforços, políticas promissoras, boa vontade, discussões, programas e projetos, não existe um horizonte muito promissor. Os crimes continuam cada vez piores; quanto mais a polícia prende, mais criminosos surgem para serem presos; quanto mais se apreende drogas, mais pessoas existem para consumi-las. Quantos presídios construiremos? Até quando apenas cobraremos solução do governo, como se o problema não fosse nosso?
Talvez estejamos enxugando gelo. Talvez eu seja apenas um vendedor de fumaça.
No entanto, parece-me que somente quando cuidarmos de nossas crianças poderemos chegar a uma verdadeira solução. O caminho é longo, mas é a única verdadeira solução. O que vem sendo feito em segurança pública é necessário, mas enquanto a realidade e a sociedade são alteradas, melhoradas.
A segurança pública não é a solução para a nossa sociedade. É o remédio que nos faz sobreviver enquanto a cura é construída. Todos temos que construir. Não podemos apenas cobrar mais segurança e esperar. Uma nova sociedade é feita por todos nós.
Não é caso de polícia. E todos podem fazer alguma coisa, ensinar alguma coisa, colaborar com alguma coisa.
Deixo dois artigos de meu livro para reflexão:



FAMÍLIA E PAIS COMO PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE
Há algumas semanas falei sobre resultados encontrados em minha pesquisa sobre os fatores que contribuem para a criminalidade violenta de adolescentes e, especificamente, como a ausência paterna e a desestruturação familiar podem contribuir para que jovens se tornem delinquentes. Hoje retomo o tema para apresentar dados mais precisos e discutir o papel da família na prevenção da criminalidade.
Os resultados encontrados em minha pesquisa revelam que apenas 32% dos adolescentes que cometeram crimes violentos moram com os pais, enquanto que para os adolescentes não infratores o mesmo índice é de 72%. Da mesma forma, 42% dos adolescentes violentos tem 4 ou mais irmãos, sendo que apenas 20% dos adolescentes que não cometeram crimes têm família tão numerosa.
Na mesma esteira, quase 20% dos infratores violentos afirmaram que nunca almoçam ou jantam com os pais, enquanto apenas 5% dos não delinquentes fizeram a mesma assertiva. Outro dado revela ainda mais o afastamento que existe entre o adolescente infrator violento e seu pai: quase 1/3 deles não sabem se o pai trabalha ou não. Isso mesmo. Eles simplesmente não sabem dizer se sim ou não.
Estes são apenas alguns dados obtidos em minha pesquisa, os quais vão ao encontro dos resultados obtidos em outras pesquisas criminológicas similares e que já nos possibilitam inferir que a família, sua estrutura e a proximidade paterna têm alguma influência no cometimento de crimes por adolescentes.
Partindo destes estudos, podemos afirmar com certa margem probabilística que há uma tendência das famílias melhor estruturadas, onde existe afeto entre seus membros, em não verem seus filhos envolvidos no cometimento de crimes graves e violentos. A responsabilidade dos pais neste aspecto não pode ser minimizada, lembrando que o cometimento de crimes leves na adolescência é algo relativamente comum e passageiro, não despertando tanta preocupação. Falarei sobre isto em outra oportunidade.
De momento, passo a sugerir algumas atitudes para que as famílias reflitam e os pais passem a adotar para ajudar seus filhos a construírem vínculos sociais sólidos e que os afastem da criminalidade.
O primeiro passo é existir um planejamento familiar. Não podemos admitir que pessoas com dificuldades financeiras enormes tenham 5, 6, 7, 8 filhos. Isto é uma maldade com as crianças, com as famílias e com a sociedade. O afastamento nestas famílias é inevitável, as tensões geradas pelas dificuldades de sobrevivência estimulam a violência interpessoal e esta passa a ser vista como algo normal pela criança, o que poderá trazer reflexos no cometimento de crimes violentos na adolescência e na vida adulta.
É responsabilidade das escolas, dos governos, das igrejas, das associações de moradores e de todos nós (pais, amigos, vizinhos, patrões) uma orientação sexual para o planejamento familiar. A conscientização exige tempo, mas infelizmente é a única solução duradoura de longo prazo para questões de segurança pública.
Como me estendi um pouco neste primeiro aspecto da importância da família para a segurança pública e prevenção da criminalidade, continuarei a tratar deste tema no próximo artigo. Uma última reflexão: para ser pai é necessário respeito à vida e responsabilidade.

FAMÍLIA E PAIS COMO PREVENÇÃO DA CRIMINALIDADE - continuação
Continuando a reflexão sobre algumas atitudes que os pais devem adotar para ajudar a educar filhos para a não violência e para não vê-los envolvidos com a criminalidade, passamos a discutir a proximidade familiar.
O primeiro aspecto apresentado no artigo passado foi sobre a importância do planejamento familiar, pois este propiciará a formação de famílias estruturadas, onde exista correlação entre as condições financeiras, de sobrevivência digna e o número de membros desta unidade familiar.
Quem ganha um salário mínimo não pode sonhar em ter 10 filhos. Antes de realizar este sonho deve-se pensar em ganhar mais, pois só assim poderá dar uma vida digna a seus filhos. Feliz ou infelizmente – deixo este julgamento a cargo do leitor – este é o mundo capitalista em que vivemos e temos que aprender a viver nele com dignidade e respeito à vida e ao ser humano. Ademais, deve-se aceitar que atualmente a população é eminentemente urbana, não se justificando mais o pensamento de que uma família numerosa tem maior força de trabalho no campo.
Orientação às pessoas mais pobres e conscientização são inafastáveis se quisermos progredir como sociedade organizada. Segurança pública, pode-se perceber, não é simplesmente prender bandidos. É algo bem mais complexo e difícil de tratar.
Ultrapassado este primeiro aspecto, devemos refletir sobre proximidade e união dentro das famílias. O afastamento familiar hoje é uma realidade e não pode ser minimizado em nenhum aspecto. Pais não sabem de filhos e filhos não sabem de pais. Muitas vezes – não é apenas uma expressão não, foram diversas vezes mesmo – levei crianças de 10, 11 anos para casa porque estavam nas ruas (perto de bares, bailões e pontos de venda de drogas) de madrugada. O que fazer nestes casos? Dizer aos pais que amem seus filhos? Criar um Conselho Tutelar gigantesco para conseguir acompanhar todos os casos? Retirar estas crianças dos pais e deixá-las abandonadas em orfanatos?
Conforme falei: orientação sexual, educação e conscientização. Difícil e demorado, mas a única solução duradoura para a segurança pública. Apenas repressão jamais será suficiente se o contingente de possíveis criminosos não para de crescer e se a criminalidade encontra jovens com fatores tão propícios para delinquir.
Se você tem condições de compreensão e estrutura suficiente para começar, não espere. Comece dentro da sua própria casa. Unir a família, com os diálogos de segurança pública, como já falado em outros artigos, conhecer e aproximar-se de seus filhos, orientá-los sobre como evitar drogas, más companhias, uma gravidez precoce, uma doença sexualmente transmissível, são indispensáveis. Um constrangimento para começar estas conversas, principalmente quando elas nunca existiram, é normal, mas aproveite este artigo para introduzir e iniciar o assunto. “Hoje li um artigo que falava sobre….”.
Acompanhamento das atividades, companhias e amigos do seu filho não são motivos de vergonha ou excesso de proteção, mas atenção necessária no mundo de hoje. Observe-se que em momento algum defendo a família tradicionalista e rigidamente estruturada. Pelo contrário, defendo a família livre, baseada no afeto e na busca da felicidade de seus membros. Divórcios, por exemplo, são comuns e válidos quando o que une a família é o amor e a busca da felicidade. Nenhuma união deve continuar pela simples tradição ou obrigatoriedade um dia assumida. Mas família é muito mais do que isso.
Além do mais, preocupação e educação dos filhos não exige cobrança e pressão, mas cumplicidade e respeito. Educação racional, sólida, direta, objetiva e baseada em responsabilidade. Em última instância, quem decidirá será sempre seu filho, mas ele saberá escolher.

sábado, 3 de março de 2012

A Polícia Indefesa - Texto de Luiz Felipe Pondé

Não é de hoje que admiro as reflexões do filósofo e professor Luiz Felipe Pondé. Aliás, é dele a epígrafe de meu livro "Diálogos sobre segurança pública: o fim do estado civilizado". A escolhi porque traduz um pouco de mim: "Leio e escrevo como forma de combater a solidão do mal que me habita" (Luiz Felipe Pondé).
Pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap, Luiz Felipe Pondé discute temas como comportamento contemporâneo, religião, niilismo e ciência, tendo escrito diversos livros, os quais recomendo.
Todos deveriam ler "Contra um mundo melhor: ensaios do afeto", pois trata-se de um livro único, reflexivo, profundo e agudo. Um livro que nos faz refletir sobre a vida que levamos.

Mas o objetivo de hoje é outro: dividir com todos o texto "A polícia indefesa", escrito por Pondé em sua coluna na Folha de São Paulo.
A esta reflexão trago o pensamento do presidente estadunidense Barack Obama, ponderando que o termo policiais cabe tão bem quanto soldados. 
"...É graças aos soldados, e não aos sacerdotes, que podemos ter a religião que desejamos. É graças aos soldados, e não aos jornalistas, que temos liberdade de imprensa. É graças aos soldados, e não aos poetas, que podemos falar em público. É graças aos soldados, e não aos professores, que existe liberdade de ensino. É graças aos soldados, e não aos advogados, que existe o direito a um julgamento justo. É graças aos soldados, e não aos políticos, que podemos votar..." Barack Obama

A POLÍCIA INDEFESA
Qual o "produto" da polícia? Liberdade dentro da lei, segurança, enfim, a civilização.
A polícia é uma das classes que sofrem maior injustiça por parte da sociedade. Lançamos sobre ela a suspeita de ser um parente próximo dos bandidos. Isso é tão errado quanto julgar negros inferiores pela cor ou gays doentes pela sua orientação sexual.
Não, não estou negando todo tipo de mazela que afeta a polícia nem fazendo apologia da repressão como pensará o caro inteligentinho de plantão. Aliás, proponho que hoje ele vá brincar no parque, leve preferivelmente um livro do fanático Foucault para a caixa de areia.
Partilho do mal-estar típico quando na presença de policiais devido ao monopólio legítimo da violência que eles possuem. Um sentimento de opressão marca nossa relação com a polícia. Mas aqui devemos ir além do senso comum.
Acompanhamos a agonia da Bahia e sua greve da Polícia Militar, que corre o risco de se alastrar por outros Estados. Sem dúvida, o governador da Bahia tem razão ao dizer que a liderança do movimento se excedeu. A polícia não pode agir dessa forma (fazer reféns, fechar o centro administrativo).
A lei diz que a PM é serviço público militar e, por isso, não pode fazer greve. O que está corretíssimo. Mas não vejo ninguém da "inteligência" ou dos setores organizados da sociedade civil se perguntar por que se reclama tanto dos maus salários dos professores (o que também é verdade) e não se reclama da mesma forma veemente dos maus salários da polícia. É como se tacitamente considerássemos a polícia menos "cidadã" do que nós outros.
Quando tem algum problema como esse da greve na Bahia, fala-se "mas o problema é que a polícia ganha mal", mas não vejo nenhum movimento de "repúdio" ao descaso com o qual se trata a classe policial entre nós. Sempre tem alguém para defender drogados, bandidos e invasores da terra alheia, mas não aparece ninguém (nem os artistas da Bahia tampouco) para defender a polícia dos maus-tratos que recebe da sociedade.
A polícia é uma função tão nobre quanto médico e professor. Policial tem mulher, marido, filho, adoece como você e eu.
Não há sociedade civilizada sem a polícia. Ela guarda o sono, mantém a liberdade, assegura a Justiça dentro da lei, sustenta a democracia. Ignorante é todo aquele que pensa que a polícia seja inimiga da democracia.
Na realidade, ela pode ser mais amiga da democracia do que muita gente que diz amar a democracia, mas adora uma quebradeira e uma violência demagógica.
Sei bem que os inteligentinhos que não foram brincar no parque (são uns desobedientes) vão dizer que estou fazendo uma imagem idealizada da polícia.
Não estou. Estou apenas dando uma explicação da função social da polícia na manutenção da democracia e da civilização.
Pena que as ciências humanas não se ocupem da polícia como objeto do "bem".
Pelo contrário, reafirmam a ignorância e o preconceito que temos contra os policiais relacionando-a apenas com "aparelhos repressivos" e não com "aparelhos constitutivos" do convívio civilizado socialmente sustentável.
Há sim corrupção, mas a corrupção, além de ser um dado da natureza humana, é também fruto dos maus salários e do descaso social com relação à polícia, além da proximidade física e psicológica com o crime.
Se a polícia se corrompe (privatiza sua função de manutenção da ordem via "caixinhas") e professores, não, não é porque professores são incorruptíveis, mas simplesmente porque o "produto" que a polícia entrega para a sociedade é mais concretamente e imediatamente urgente do que a educação.
Com isso não estou dizendo que a educação, minha área primeira de atuação, não seja urgente, mas a falta dela demora mais a ser sentida do que a da polícia, daí "paga-se caixinha para o policial", do contrário roubam sua padaria, sua loja, sua casa, sua escola, seu filho, sua mulher, sua vida.
Qual o "produto" da polícia? De novo: liberdade dentro da lei, segurança, a possibilidade de você andar na rua, trabalhar, ir ao cinema, jantar fora, dormir, não ser morto, viver em democracia, enfim, a civilização.
Defendem-se drogado, bandido, criminoso. É hora de cuidarmos da nossa polícia. Luiz Felipe Pondé