quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A ESSÊNCIA DA POLÍCIA

Fomos nós que escolhemos viver juntos. É mais fácil viver com outras pessoas, elas nos são úteis. Como podemos ferir essas pessoas no que elas têm de mais importante? Como podemos machucar alguém que sabemos que também sofre, sente dor, chora, assim como nós? Por que não conseguimos pensar que aquela pessoa também tem alguém que a ama, que a espera, que sofrerá? Como as pessoas podem matar, roubar, estuprar, sequestrar quando entendem que o outro também somos nós? Esta vida não é deste mundo, pois o crime não tem lógica, não tem razão de existir, não tem sentido. 
O crime é a tragédia de uma vida que não entende o que é viver com outras pessoas. E alguns não entendem. Por isso ameaçamos, mostramos um mal maior, falamos que estamos sempre prontos para uma violência pior. A polícia garante liberdades é certo, mas através da ameaça da prisão, a maior das violências. Polícia é a força do Estado que será utilizada contra aqueles que não entendem onde vivem. Mas como podemos almejar acabar com a violência apenas prometendo uma violência maior? 
A polícia existe porque não sabemos como conviver com aqueles que não respeitam as regras mais importantes, que ainda não se distanciaram do mundo selvagem, que ainda tentam se impor pela força do mais forte. Os instintos animalescos do ser humano fazem a polícia ser imprescindível, ainda que não desejada. Violência não se acaba com mais violência. Não se luta contra o mal prometendo um mal maior. No entanto, estamos aqui. Temos a polícia para todos que não entendem, para quase todos nós. 
Escolhemos dar a um pequeno grupo de indivíduos dentro de nossa sociedade o direito de usar a força física contra nós mesmos. Essas pessoas podem usar a violência para resolver o problema da ausência da paz. Eles podem prender. Esse grupo se especializa em fazer isso, trabalha com isso, existe para isso: para nos proteger de nós mesmos. Como podemos achar que somos racionais se precisamos disso? Somos animais que em um lampejo de luz tentamos nos proteger de nossos instintos, do que somos. Mas não conseguimos, pois não pensamos em nada diferente do que somos. Escolhemos a prisão, a polícia, a violência. 
A polícia nunca será adorada pela sociedade, pois é o reflexo de nossa essência atormentada, que tenta escapar do que é utilizando exatamente o que é. A polícia fica a um passo da barbárie, resolvendo os conflitos pela violência de retirar a liberdade do ser humano. Violência legítima, se é que isso existe.
Por Rafael F. Vianna
Publicado no Jornal do Ônibus, no Jornal Correio Paranaense e no Jornal de Colombo.

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